Grupos Semeadores de Esperança | Tema VI
(At 17, 16-34)
Uma coisa é acolher com o desejo crescer, outra coisa é acolher apenas preocupado com os formalismos do acolhimento. Os atenienses eram não só muito religiosos, mas, sobretudo, ávidos da perfusão de palavras onde a Palavra da Vida se perdia nos redemoinhos argumentativos muito ao gosto dos virtuosos da tagarelice.
ORAÇÃO INICIAL
Senhor, comparaste o Reino dos Céus a um grão de mostrada que precisa de tempo para ser lugar de ninhos… Pediste a paciência capaz de esperar os dias maduros, para escolher, nas eiras, o trigo e o joio.
Elogiaste a resposta incompleta, dando a entender que, quem caminha, está a chegar…
Nós, entretanto, caímos na tentação de fazer as nossas regras.
Para lhes darmos força, invocámos muitas vezes o Teu nome…
Fariseus, não entramos nem deixamos entrar!…
Ilumina-nos — só Tu és a Luz.
Orienta-nos — só Tu és o Caminho.
Fortalece-nos — só Tu és a Vida!…
Queremos confessar e viver, sabendo que Tu —e só Tu — és a Palavra da nossa voz!
Amen.
LEITURA DO TEXTO (At 17, 16-34)
16Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o espírito fremia-lhe de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos. 17Discutia na sinagoga com os judeus e prosélitos e, na praça pública, todos os dias, com os que lá apareciam. 18Até alguns filósofos epicuristas e estóicos trocavam impressões com ele. Uns diziam: «Que quererá dizer este papagaio?» Outros: «Parece que é um pregoeiro de deuses estrangeiros.» Isto, porque Paulo anunciava a Boa-Nova de Jesus e a ressurreição. 19Levaram-no com eles ao Areópago e disseram-lhe: «Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? 20O que nos dizes é muito estranho e gostaríamos de saber o que isso quer dizer.» 21Na verdade, tanto os atenienses como os estrangeiros residentes em Atenas não passavam o tempo noutra coisa, senão a dizer ou a escutar as últimas novidades. 22De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então: «Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. 23Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. 24O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, 25nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. 26Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, 27a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós. 28É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas:
‘Pois nós somos também da sua estirpe.’ 29Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. 30Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, 31pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» 32Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» 33Foi assim que Paulo saiu do meio deles. 34Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles.
PISTAS PARA REFLEXÃO
1. Uma idolatria ociosa. Paulo vê os atenienses entregues à idolatria e sedentos em conhecer novas doutrina. Todavia, por vezes, esse interesse não passava de uma sede de palavras e discursos sem estar acompanhada de uma verdadeira vontade de mudança quer individual quer social. A vida ociosa dos atenienses levava-os ao amor pelas palavras vãs e pelos discursos grandiloquentes, um fogo de artifício verbal centrado sobre si próprio sem consequências práticas, muito semelhante aos nossos “gostos” e “partilhas” de Facebook. Paulo foi mesmo considerado como um tagarela e semeador de palavras. Esta é também uma realidade à qual Jesus muitas vezes fez face no seu diálogo com os Fariseus e os Escribas que se entretinham com guerras de palavras sobre a interpretação dos preceitos da Lei.
2.A idolatria confrontada com a fé de Israel.. A idolatria é o maior pecado para um judeu. Ele vai contra a unicidade de Deus que o Shema Israel proclama: “Escuta Israel, o Senhor teu Deus é UM…”. O livro da Sabedoria afirma: “Maldito seja o ídolo, obra das mãos dos homens, e aquele que o fez...” (Sb 14, 8-11). Por isso, Paulo estremecia em si mesmo ao ver toda aquela idolatria (v. 16). Todavia, em vez de seguir o conselho do livro da Sabedoria, Paulo parte da realidade que encontra sem a hostilizar. Paulo vai mesmo ao ponto de dizer que, na sua idolatria, os atenienses até prestavam o culto ao verdadeiro Deus através do altar ao “Deus Desconhecido” e cita mesmo os poetas gregos. Em seguida, Paulo reafirma a universalidade do seu Evangelho. O Deus de Paulo não é o Deus dos judeus nem de qualquer outro povo ou fação. É um Deus transcendente, não apropriável e criador de todo o género humano. Esta proclamação vai contra tudo o que era comum no tempo de Paulo em que cada cidade tinha a sua divindade protetora e os próprios deuses se gladiavam entre si.
3. Deixar para amanhã a conversão a que sou chamado hoje. Ao contrário do Panteão onde se prestaria culto a todos os deuses para que todos nos fossem todos favoráveis, Paulo fala do Deus único e desconhecido mas termina apelando à conversão na eminência do Juízo final. No momento em que Paulo proclama a senhoria de Cristo (um Homem) estabelecida pela sua ressurreição dos mortos os atenienses começam a troçar de Paulo. No meio do palavreado, da tagarelice e da troça, uma palavra fazendo apelo à conversão e proclamando um Homem vencedor da morte provoca um adiamento do acolhimento da Palavra: “Ouvir-te-emos mais tarde”. Todavia, alguns abraçam a fé. Dois são nomeados, um homem e uma mulher, Dionísio e Dâmaris..
QUESTÕES PARA REFLEXÃO PESSOAL
1. Qual é o ambiente ideal para partilhar a nossa fé em Cristo?
2. Como é que normalmente reajo num ambiente hostil à fé?
3. Sinto-me deprimido num pequeno grupo ou assembleia celebrante ou dou graças a Deus quer no muito como no pouco?
QUESTÕES PARA O COMPROMISSO
1. Um ditado diz: “Para ensinar Matemática ao Pedro é tão importante conhecer bem a Matemático como o Pedro”. De que forma eu tento conhecer o meu mundo para anunciar-lhe a Boa Nova de Jesus Cristo?
2. Como é que eu tento ultrapassar as resistências de um meio muitas vezes hostil à Boa Nova?
3. A minha comoção diante dos males do mundo traduz-se em ação ou em lamúria?
CÂNTICO
É tempo de ser esperança É tempo de comunicar, É tempo de ser testemunha de Deus Neste mundo que não sabe amar. (Bis)
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