Páscoa, tempo de solidariedade responsável
Estamos a viver um tempo único e, assim o esperamos, que não se repetirá tão cedo. Dado serem dias singulares, é bom tirarmos algum tempo para pensarmos na nossa vida e na nossa identidade cristã. Seguindo com responsabilidade as orientações de isolamento social, vivemos um tempo de maior silêncio e solidão. Estas duas palavras constroem um programa.
Apesar de termos diante de nós mais tempos de solidão, esta deve ser uma solidão habitada. Não nos podemos fechar nos nossos problemas e inquietações. O vírus faz-nos sentir que na Humanidade todos dependemos uns dos outros. Somos efectivamente uma coisa só, a nossa vida tem de ser habitada pelos outros e, numa opção de fé cristã, devemos cuidar dos pobres, marginalizados, desempregados e solitários. Para todos deve haver lugar. Todos devem conviver connosco.
O silêncio destes dias terá de ser eloquente, com mensagens a serem ouvidas por todos. Deus quer falar connosco e os outros interpelam-nos a todo o momento. Urge ser capaz de ouvir para depois oferecermos o melhor de nós. Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar. Ouçamos os gritos e os lamentos da Humanidade e falemos do amor e do serviço.
A solidão e o silêncio deste tempo devem conduzir-nos a uma solidariedade responsável. As teorias estão a perder a sua vitalidade. Precisamos de gestos e sinais. Coisas pequenas ou grandes. O mundo de amanhã será, inevitavelmente, mais solidário e interdependente. Somos uma família. Chegou o tempo de o mostrarmos a todo o mundo.
Desejo que esta Páscoa, com tantos constrangimentos, seja rica de maior solidariedade, a concretizar agora com os familiares mais próximos e vizinhos e, mais tarde, com a Humanidade, conhecida ou desconhecida. Ela espera silenciosamente pelo nosso amor feito doação e entrega. Que seja uma Páscoa de páscoas, de sinais e gestos, concretos e conscientes, para se alcançar a tão desejada serenidade e tranquilidade.
Que a solidão seja habitada pelo mundo inteiro e que o silêncio grite aleluias de confiança no presente e no futuro. Caminhemos numa solidariedade responsável perante os inúmeros problemas com que nos debruçamos. Jesus ressuscitou, Aleluia!
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
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